domingo, 28 de setembro de 2008

A Elevação Espiritual de Hele Vada - Com mínima participação de Felipe Abrahão.

Hele Vada era uma enfermeira dócil que cuidava de seus pacientes com a mesma doçura que cuidava dos cadáveres que mantinha em seu porão.Todos a amavam e a idolatravam, mas aquela moça aparentemente tão singela e redonda, era uma moça infeliz. Então você me pergunta: como pode uma moça tão feia, portadora do vírus do HIV, paraplégica, careca e sem uma mão, com um buraco de pus no olho direito, receber menos da metade de um salário mínimo a cada dois meses e com 28 filhos para cuidar, pode ser infeliz? E eu te respondo que nem tudo é o que parece.Hele Vada tinha um marido muito muito curel, que todas as noites lhe presenteava com flores e declarações de amor.

Ela não aguentava mais aquilo, estava começando a ficar nauseada e grávida.

-Sussum, pare com essas declarações! Estou começando a ficar grávida novamente! Como poderemos prosseguir?

Mas Sussum era um homem cruel que só sabia falar com palavras hiátonas que terminavam com "u" e só formulava frases na voz passiva. Isso nas quintas-feiras, pois no resto dos dias preferia varrer a casa.

Realmente a vida de Hele Vada era uma vida ingrata renata escada gata graxa praxe sintaxe esculacho. E a única coisa que a deixava realmente realizada era descer todas as segundas, e às vezes quintas, sempre às 17horas ao porão de sua casa (que na realidade era no sotão, e por vezes até mesmo garagem) para visitar os cadáveres que cultivava com alfafa e cominho light. Isso sim era uma realização para ela, pois a mantinha relaxada e ausente da inércia.

Durante anos ela postava anúncios em jornais de bairro de solicitação para doações de cadáveres semi-vivos, ou seja, que ainda tinham pelo menos alguns movimentos nos tendões dos pés para quando ela fizesse cócegas com a ponta da espátula que abria os potes de concentrados de mel e jasmim. Na realidade seu casamento ja não vinha bem desde o dia em que flagrou seu marido fazendo algo inadmissível.
E aí você me pergunta o que era, e eu te respondo que este homem havia sido pego pela própia esposa cozinhando milhos em conserva durante a madrugada de uma quarta-feira. Então você me pergunta: desde quando isso causaria comoção em alguém?

E eu te respondo que não causaria, se seu marido não tivesse jurado diante do padre no dia do casamento que jamais cozinharia milhos em conserva durante uma madrugada de quarta feira.Quando presenciou aquela cena, Hele Vada não teve dúvidas: desfiou o casaco de lã que seu poodle hermafrodita vestia e amarrou a boca de seu marido com ele.Em seguida, despejou seus tétanos que mantinha em cativeiro e fizeram com que os mesmos observassem seus estudos.Foi terrível. Os vizinhos até pensaram em chamar a imprensa. E como a imprensa é telepata e captou os pensamentos dos vizinhos, apareceu na frente da casa de Hele Vada e ali cozinharam seus instintos, que causaram grande amargura nas ONG's da região.

Após o ocorrido, foi feita uma sopa de sementes de grão-de-bico e servida à população, que agora jazia inerte sobre a calçada da igreja que havia sido desmoronada em 7 partes e que não foi citada na história.

Após 3 dias, Fernando Alessandra, o poodle hermafrodita de Hele Vada, cavalgou durante o outono trazendo boas novas, todas acima de 19 anos.
Quando Hele Vada recebeu as meninas, muito boas e muito novas, abriu imediatamente uma casa de massagem e adquiriu fundos para a sobrevivencia de seus cadáveres, que agora retornavam ao colo de iemanjá santinha.

domingo, 21 de setembro de 2008

Divagações da acetona

Ando sentindo um arrependimento de novela, daqueles bestas, de tão caricatos. Sempre pensei que tudo na vida tinha um propósito e dependemos disso para melhorar, né. Mas eu aprendi que nem tudo. Porque eu simplesmente amaldiçôo o dia em que comecei a tirar a minha cutícula. Pior: o dia em que decidi fazer as unhas da mão toda semana.

Antes disso, era meio velado, mas praticamente tudo era permitido: desde tirar caquinha de nariz no metrô na maior calma, até a arrumar a calcinha que insistia em entrar na bunda sem se preocupar se tinha alguém olhando. Sentar meio jogada (não de perna aberta, entendam), sair pra trabalhar de cara lavada, ok! Sombra, gloss, o que era isso mesmo? Comer salgadinho e limpar a mão na própria calça, comer comida que caía no chão, se ralar toda nos tombos, sem problema! Depilação, só com gilete e quando dava. Falar e rir alto não causava comoção geral. Até as tentativas de aprender a arrotar passavam meio despercebidas. A justificativa era clara: não importava, porque eu era uma menina que não fazia as unhas da mão regularmente. Isso explicava tudo.

Tudo mudou quando comecei a entender o que era uma unha francesinha. A fazer as sombrancelhas regularmente. A clarear os pelinhos do braço. A pintar as unhas do pé de vermelho. A depilar virilha e axilas com cera. Mas, a merda do pêlo dói tanto pra sair que deveria ficar meio ano sem nascer, as unhas ficam borradas e quebram de tanto que eu me debato no meu dia-a-dia, o pé está sempre sujo de andar no chão descalça, é uma luta perdida, em vão.

A diferença é que, antes de eu ter a brilhante idéia de fazer as unhas toda semana, eu não dava a mínima pra essas coisas. Agora, me sinto uma criança da AACD vestindo saia-lápis e preocupada em não se sujar, não cair, não sentar toda jogada, não borrar o esmalte, não rir tão alto com a boca melada de gloss. Fico até com dó de usar tanto creme Victoria Secrets, olha que inversão de valores. Antes eu não sabia o que era hidratante facial, e minha pele não era pior por causa disso. Eu estava inserida numa categoria distinta das mulheres humanas normais.

Certeza absoluta que hoje eu seria um pouco mais fedida e rejeitada pela sociedade, mas que eu devia ter continuado com as cutículas virgens, ah devia. Porque se antes eu era uma párea da sociedade com as manhãs de sábado livres, agora sou um moleque preso na pele de uma perua sempre ocupada. Call me freak.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Texto "APAIXONE-SE" (com meus comentários, porque foi mais forte que eu. Ps: não sei quem é o autor, mas o texto é famoso.)

O dia seguinte é o dia mais importante da sua vida. É no dia seguinte que sabemos se o dia de ontem valeu a pena. (Mentira, às vezes você só se dá conta anos depois que o dia de ontem valeu a pena.)

É no dia seguinte que acordamos para a realidade ou dormimos no sonho. (e por que não no dia de hoje? ¬¬ )

A vida da gente começa no dia seguinte e só existe uma maneira de viver: APAIXONADO. (Mentira, senão padres já estariam mortos. E além disso, o que o dia seguinte tem a ver com isso???)

Por isto dance, dance como se ninguém estivesse vendo você (putas com web cam!! =D )

Trabalhe como se não precisasse de dinheiro (quem escreveu isso deve ser rico ou realmente tem o melhor trabalho do mundo.)

Corra como se não houvesse a chegada (diga isso pra quem corre na São Silvestre)

Ame como se nunca tivesse sido magoado antes (E leve tombos como se jamais tivesse estourado as rótulas e nem perdido a arcada dentária)

Acredite como se não houvesse frustração, (isso serei obrigada a concordar)

Grite como se ninguém estivesse ouvindo, (diga isso depois das 22h pra quem mora em apartamento)

Beije como se fosse eterno, (fosse eterno o que?)

Sorria como se não existissem lágrimas, (uma coisa não impede a outra ¬¬ )

Abrace como se fossem todos amigos, (e depois candidate-se a prefeito ou presidente)

Durma como se não houvesse amanhã, (Quem escreveu isso deve morar no Iraque)


Crie como se não existisse crítica, (e depois esconda o que você criou. Só assim pra não existir crítica.)

Vá como se não precisasse voltar, (se você estiver de mudança, faz sentido.)

Acorde como se você nunca mais fosse dormir de novo, (Certeza. Mora no Iraque)


Faça a próxima viagem como se fosse a última, (Mora no Iraque e tem síndrome do pânico)

Vista-se como se não conhecesse espelhos (Mora no Iraque, tem síndrome do pânico e é EMO.)


Proponha como se não existissem as recusas, (Ok. Posso comer sua mãe?)

Brinque como se não tivesse crescido, (Que os anões não nos escutem.)


Levante como se não tivesse caído, (diz isso pra quem caiu na areia movediça)

Case como se não houvesse outra, (outra o que????)

Mergulhe como se não houvesse medo, (E como se não houvesse água hahahaha)

Ouça como se não existisse o certo ou errado, (E quem é surdo?)

Fale como se não existisse o certo ou errado (E quem é mudo?)

Aprecie como se fosse eterno, (Apreciar o que? E o que é eterno??!?!?!)

Viva como se não houvesse fim. (Diga isso para quem está na UTI com dois pulmões perfurados)

Prefira ser invés de ter, (Claro, eu sempre preferi ser uma telemarketing do Bradesco em vez de ter uma mansão na Europa mesmo.)

Sentir invés de fingir, (Diga isso pras frígidas que fingem orgasmos)

Andar invés de parar, (Pernetas estão fodidos)

Ver invés de esconder, (cegos estão na merda)

Abrir invés de fechar. (Diga isso pra quem tá tentando abrir um cofre há 7 horas e não sabe a senha)

Apaixonar-se é um exercício de jardinagem: arranque o que faz mal, prepare o terreno, semeie, seja paciente, espere, regue e cuide. Terá um jardim. Mas esteja preparado porque haverá pragas, secas ou excesso de chuvas. Se desistir, não terá um jardim. Terá um descampado. (Manuais no Jardim Botânico de São Paulo por menos de 15 reais)

A paixão não se vê, não se guarda, não se prende, não se controla, não se compra, não se vende, não se fabrica. (Ah, se vende e se fabrica sim senhor. Você acha que as pessoas no orkut fazem o que?)

A paixão é a diferença entre o sucesso e o fracasso. ("capacidade" mudou de nome agora...)

Entre a dúvida e a certeza. (Achei que era indecisão. Mas faz sentido, faz sentido. Um ex meu entendia disso perfeitamente e se dizia apaixonado.)

Entre aqueles que gostam do que fazem e aqueles que fazem o que gostam. ("Preferência" também mudou de nome.)

Apaixonados não esperam, agem. (Diga isso para um apaixonado inseguro, gago, fanho, relento, míope e com acnes)

A paixão é o que faz coisas iguais serem diferentes. (Creio que o nome disso é "álcool".)

Lembre-se que a arca de noé foi construída por apaixonados que nada conheciam de navegação e de embarcação e o Titanic foi feito por engenheiros profissionais, fabulosos, que queriam mostrar seu poder. ( E eu com isso?!?!?!??? Tipo...o que isso tem a ver com o texto??)

Amanhã, quando acordar, pense se hoje valeu a pena e APAIXONE-SE. Porque em 24 horas você vai entrar no dia mais importante da sua vida: o dia seguinte. (Aí dia seguinte o pneu do carro fura, sua conta fica no negativo, seu cachorro morre, cortam a luz da sua casa e você sofre uma fratura exposta.)

----------------

Piadas a parte, só pra gente reparar o quanto uma pessoa é capaz de escrever idiotices e o quanto outras milhares de pessoas são capazes de idolatrar essas idiotices. Em algumas partes quem escreveu foi completamente incoerente. Esse texto foi enviado em uma porrada de e-mails e foi até feito um "clipe bonitinho" com ele que bomba no orkut. Acho que é melhor a gente começar a prestar um pouco mais atenção no que a gente lê antes de achar bonito e dizer que gosta. Pessoas estão acostumadas a gostar de palavras bonitas mas não se apegam muito ao contexto.

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Da série contos quentes e estranhos - II

Quando Mariana abriu a porta e viu seu marido agarrado horizontalmente a uma das pernas daquela mulher que parecia um travesti - Mariana havia comprovado, naquele ângulo, que não era - o mundo se desproporcionalizou na sua mente, de uma maneira que ela jamais ousaria pensar.

Revia na sua cabeça, horas depois do acontecido, a quantidade de vezes que havia se perguntado como reagiria a uma situação como aquela, comprovando o que imaginava lá no fundo da sua alma, sem coragem para admitir: já sabia, sentia, quase precisava ter passado por aquilo.

Tivera uma vida linda até aquele momento. Uma infância alegre, pais que a protegeram quase no equilíbrio entre a proteção e o aprendizado, amiguinhos de infância, namoradinhos, era linda e mimada da maneira certa. Não precisou ter fases na sua adolescência, todos a aceitavam, todos sempre diziam o quanto ela era doce e compreensiva, a menina de ouro do colégio, dos amigos, da família. Só se vestia com estampas florais ou cor-de-rosa, no máximo azul claro.

O primeiro namorado, com algum custo, conseguiu arrancar dela a virgindade. Mariana adorava o jeito dele fazer carinho nos seus seios, mas não gostava de ir muito além disso. Não achava que era muito delicado. Mariana gostava de coisas delicadas, todos diziam que combinavam com ela. Um ano depois, o tal namoradinho viajava para São Paulo pra fazer faculdade. Jazia aí o namoro.

Mariana nunca imaginou que conheceria o grande amor da sua vida tomando seu primeiro (e único) porre, algum tempo depois. Estava só, se sentia mal, resolveu ir a um dos únicos bares da cidadezinha onde sabia que não seria reconhecida. Pediu gim-tônica. Duas, três. Acordou sem saber quanto tempo depois, já do lado de fora do bar, nos braços de um jovem sedutor, naturalmente charmoso. E lá mesmo o beijou. Achou, no dia seguinte, um papelzinho com o número de telefone que dizia: ligue para o seu herói, como sinal de agradecimento. E ela ligou, achou delicado da parte dele.

Muitas explicações pelo dia fatídico, saídas, cinemas e alguns meses depois, ele decidiu que era hora de avançar, a pediu em namoro. Ela dizia que ir para o motel, só depois de constatado formalmente o compromisso. E então foram.

Ela apagou a luz. Ele pediu para acender. Ficou na meia-luz. Ela deitou de lingerie embaixo do lençol, ele pediu para ficar em cima da cama e se despir para ele. Ela só abaixou as alças do sutiã. Ele tirou a roupa e ela o viu. Teve vontade de colocar a boca no corpo dele mas não o fez, não achava esse tipo de coisa muito apropriado. Ele a puxou para perto e ela delicadamente abriu as pernas em posição papai-mamãe. Deu um beijinho no rosto dele depois que ele gozou. Casaram-se depois de três anos.

Se no começo ele a chamava de "minha lindinha", com o tempo aquela delicadeza toda tornou-se um fardo difícil para ele suportar. Palavrões não eram permitidos. Boquetes, nem uma vez. A casa inteira cheirava a flores. Sua mãe era a melhor amiga da sua esposa, tomavam café à tarde e passeavam pela cidade, falando de como criar filhos.

E agora, depois de ver aquela cena surreal acontecendo na sua própria cama, tudo que Mariana sentia era uma vontade incrível de sair daquela cidade e arrumar um emprego. Sentia algo estranho dentro de sí, mas ainda não sabia definir o que era. Decidiu ir e foi, sem malas, sem documentos, sem se despedir dos pais. Precisava ir.

Cinco anos passados, qual não foi a surpresa de Mariana, toda vestida em couro preto, ao ver Sérgio, seu primeiro namorado, entrando e vindo ao seu encontro pela porta do Império Dominatrix em plena rua Augusta, com o olhar implorando pelo seu salto 16 e suas técnicas de sufocamento conhecidas em toda a cidade.